quarta-feira, 9 de maio de 2012

Capacitação de monitores

Nos dias 08 (terça) e 09 (quarta) de maio, foi ministrada na Sala Didático-expositiva do MAE-UFPR a capacitação de monitores. Visando um maior contato com os conhecimentos relativos a cada área e uma melhor possibilidade de adaptar a transmissão desses conhecimentos para os diversos públicos, nossos profissionais e bolsistas dedicaram os últimos dias ao aprimoramento desta que é uma importantíssima frente de atuação de nosso projeto de ações educativas e inclusivas. No primeiro dia, tivemos as falas de Sady Carmo Jr., responsável pela arqueologia, e ms. Andréia Baia Prestes, coordenadora das ações educativas. No segundo dia, contamos com as explanações da Prof.ª Dr.ª Laura Pérez Gil, responsável pela área de etnologia, e da Esp. Bárbara Bueno Furquim, responsável pela área de cultura popular e patrimônio.

 Sady e bolsistas. Explanação sobre a constituição
do campo arqueológico.
Sady prestou uma série de esclarecimentos acerca do trabalho arqueológico: desambiguações quanto à paleontologia e à "caça a tesouros" que por vezes o público infantil tende a confundir, o que constitui a arqueologia, seu objeto de pesquisa (e o papel dos objetos em sua construção), seu diálogo com diversas áreas e disciplinas, o que constitui um sítio arqueológico e o que defrontamos num sítio arqueológico, como se constrói a pesquisa arqueológica e os procedimentos e métodos adotados nas diversas etapas de pesquisa, do planejamento à divulgação dos resultados. Além  de ter fornecido uma série de informações sobre os povos dos Sambaqui e os Tupiguarani, presença principal em nosso espaço expositivo.

Andreia e Sady explanando quanto à adequação de linguagem
científica para o público escolar.

Andréia apresentou as principais propostas e objetivos das ações educativas, a atuação junto a escolas, o projeto dos kits didáticos que visa levar o acervo museológico para o interior das escolas enquanto material pedagógico. Fez explanações sobre os diversos painéis fotográficos incorporados à exposição e às possibilidades de interação com o público que estes colocam. Introduziu também, de forma pedagógica, uma fala sobre as diversas formas de exposição e da possibilidade da adaptação da linguagem e da dinâmica expositiva aos mais diversos públicos, sobretudo no que tange ao trato com portadores de necessidades especiais. Além disso, nos deu explicações gerais sobre a monitoria, que segundo a mesma (e boa parte de nossa equipe), deve ser regida por quatro princípios: conhecimento (domínio sobre os contextos e significados dos objetos expostos), humildade (reconhecer a eventual falta de resposta ou informação frente a um/a visitante, e a possibilidade de obtenção de esclarecimentos num momento posterior ou junto a outros membros da equipe), bom senso (quanto ao ritmo e interesse do público visitante e adequar a linguagem de modo a tornar a exposição mais atraente) e respeito (esclarecer eventuais dúvidas ou desconstruir eventuais preconceitos sem o constrangimento do/a visitante).

Laura e bolsistas em discussão acerca da pluralidade
ontológica que permeia as sociedades indígenas
A professora Laura, para além das explanações sobre as diversas etnias indígenas e sua relação com os objetos hoje incorporados à exposição (portanto, pensados de forma bastante diferente do contexto inicial), que foram orientadas com base nos conhecimentos prévios e didáticas adotadas pelos próprios responsáveis pelas monitorias, sugeriu a incorporação à didática de exposição de discursos e traços que permitam pensar não "o índio", uniforme e homogêneo como por vezes é pensado por algumas pessoas, mas as etnias indígenas em todos aqueles traços que as fazem singulares, seus processos de interação com a "sociedade nacional" e suas próprias óticas acerca desses processos de interação, a desconstrução de conceitos etnocêntricos que por vezes possam surgir, suas relações singulares com aquilo que chamamos de "corpo", "sociedade", "natureza", "espíritos", "alteridade", as diferenças e semelhanças que existem entre a forma como "nós" enxergamos essas relações e a forma como "eles" enxergam, o que é o "eu" e o "outro" pensado quanto a uma realidade tão próxima, mas por vezes enxergada como tão distante.

Bárbara: Saberes, fazeres e celebrares em toda sua
potencialidade transformativa.
Bárbara fomentou pensar junto ao público escolar o espaço da cultura popular como o espaço para se pensar as tradições, sugerindo que se coloque as tradições em toda a sua potencialidade transformativa e ressignificação ao longo do tempo-espaço sem que se possa conceber como uma "perda"- tomou o exemplo das adaptações tecnológicas que modificam um objeto sem descaracterizá-lo, como se pode observar em algumas das peças que integram a exposição. Perpassou o universo dos diversos saberes (transmitidos no universo doméstico através das gerações e ressignificados no interior do espaço-tempo), fazeres (expressões práticas dos conhecimentos apreendidos) e celebrares (através de folguedos de fé, magia e/ou ludicidade diretamente ligados aos aprendizados e modos de fazer), sempre pensando a possibilidade de traçar paralelos com a realidade do próprio público e pensar a forma como realidades tão diversificadas podem fazer e fazem parte do nosso cotidiano.

Vale ressaltar que o todo trabalho foi norteado de modo a pensar o espaço do museu para além dos objetos e conhecimentos vinculados, como um espaço para trabalhar ideias e visões de mundo, mesmo dos próprios visitantes, possibilitando a desconstrução de preconceitos e um tratamento mais próximo e flexível com as diferenças. Sobretudo quanto a crianças e jovens em idade escolar, nosso público mais expressivo, para o qual um aprendizado deste tipo pode ser tão enriquecedor.

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